“Eu me considero primeiro um desenhista e, depois, um animador. Ainda que, hoje, meu trabalho seja mais de produtor.”
Paulo Muppet é o cofundador da Birdo Studio, ao lado de Luciana Eguti.
Começou sua carreira em 1998, quando o mercado de animação de personagem no Brasil era, praticamente, apenas publicidade. Seu primeiro trabalho foi em uma produtora paulista, chamada ‘Cinema Animadores’, onde conheceu os softwares da USAnimation, antiga Toon Boom Animation.
No meio do caminho, Paulo conheceu sua sócia, Luciana, numa produtora, na qual eram responsáveis pelas animações. Quando Luciana voltou da faculdade de Animação no Canadá, eles resolveram fundar a Birdo. Atualmente, eles variam entre 60-180 animadores em sua equipe e, no geral, fazem de 2-3 projetos ao mesmo tempo.
“Nós decidimos abrir a Birdo com a esperança de que teríamos trabalho suficiente para duas pessoas fazerem animação de personagem.”
Antes de começar, você poderia falar um pouco mais sobre a Birdo? E qual a visão de vocês do mercado atual?
Paulo: A Birdo é um estúdio de animação que começou em 2005. Durante 10 anos, fizemos bastante curta-metragem, vídeo clipes e projetos curtos. E, devido ao mercado na época, conseguimos entrar no mundo das séries animadas, onde nosso primeiro trabalho foi com os Mascotes dos Jogos Olímpicos.
O primeiro foi para criar o design dos mascotes, promovido pelo Comitê Olímpico Internacional e o segundo foi com a série de 32 episódios dos mascotes, promovido pelo Cartoon Network, que ganhamos os dois.
A partir deste dia, começamos a fazer outros conteúdos mais longos, como hoje, que temos 6 séries originais desenvolvidas dentro de estúdios: ‘Oswaldo’, ‘Cupcake & Dino: Serviços Gerais’, ‘Vinicius & Tom – Divertidos por Natureza’, ‘Clube da Anittinha”, “Bada Bean” e “Ninjin”.
Inclusive, recentemente, terminamos de animar a série do “Menino Maluquinho” para a Chatrone, que já está disponível na Netflix. Além de fazer duas temporadas da série “Star Wars: Forces of Destiny” aqui no Brasil.
“Clube da Anittinha, Ninjin, Bada Bean, Star Wars: Forces of Destiny e Menino Maluquinho foram todos feitos em Toon Boom.”
Pensando na história da Birdo e na sua trajetória no mundo da animação. O que te levou a continuar acompanhando os softwares da Toon Boom durante os anos e saber que poderia investir?
Paulo: O Brasil, especialmente, é uma indústria de animação recente, e a gente não tem o mesmo tipo de acesso aos projetos e orçamentos que os outros países têm. Então, a gente não consegue concorrer com países que tem mais tradição nos projetos com valores de produção mais alto.
E acabou que este nicho da animação ‘cutout’ se desenvolveu mais aqui no país, por ser de custo mais baixo, quando comparado com projetos de animação desenhada quadro a quadro que, normalmente, demoram mais tempo para serem produzidos.
“A Toon Boom sempre esteve presente no topo das inovações e em cutout”
Estes tipos de projeto baseado em rigging, que economiza bastante tempo e custos das animações, serviu muito bem para uma indústria que estava em formação. Hoje em dia, usamos Toon Boom até em projetos que não são baseados em rigging, pelo conforto e costume das produtoras.
Alguns desenhos animados feitos pela Birdo, vocês utilizaram o Toon Boom Harmony. Porém, vocês utilizam ou já utilizaram o Toon Boom Storyboard Pro? E tem algum exemplo?
Paulo: Começamos a usar o Storyboard Pro na animação “Oswaldo”, em 2017, e foi um caminho sem volta para a Birdo, já que o único projeto que não usamos este software foi a primeira animação do estúdio.
Ele é o único software que eu conheço que permite que você tenha um conjunto de camadas diferentes para cada quadro do Storyboard. E isso é uma coisa que se diferencia no mercado por não conseguir ter este recurso em nenhum outro software.
“O Storyboard Pro é de fato um software que não tem similar no mercado”
Co-production Birdo (Brazil) and Symbiosys (India)
“O Storyboard é uma escultura que você vai refinando e jogando fora o que não serve, testando seu episódio com o menor custo possível”
A diferença entre o Storyboard e animação se limita, literalmente, ao Storyboard sendo a criação, e a animação ao ato de animar a cena?
Paulo: A resposta dessa pergunta está ligada à uma natureza de atividade econômica.O Storyboard sempre serviu como pré-visualização da animação e envolvia menos desenhos do que hoje em dia.
À medida que a indústria da animação foi se sofisticando e os grandes estúdios começaram a buscar alternativas mais baratas para produção (terceirizar este processo), o storyboard como documento, foi ganhando mais importância, porque servia como documento para alinhar equipes que estavam distantes umas das outras. E tudo pode mudar de lugar para lugar e de produção para produção.
Para concluir a entrevista, se você pudesse dar uma dica para os animadores que estão embarcando neste mundo da animação, qual seria? Trabalhar como freelancer ou em ambiente de estúdio?
Paulo: Todo mundo tem um jeito de trabalhar e cada um precisa descobrir como se encaixa dentro do mercado de animação. Trabalhar como freelancer em projetos curtos, ou em estúdios com projetos mais logos, ambos têm seus prós e contras, ou seja, vale a pena experimentar modelos diferentes para ver em qual deles você se adapta melhor.