Conteúdo de Jenna Pearl traduzido por Toon Boom
Na produção da Immagini Animation Studios, Chef Jack: The Adventurous Cook (no original, em português: Chef Jack: O Cozinheiro Aventureiro) , Jack, o protagonista da história, viaja pelo mundo em busca dos melhores ingredientes para criar suas receitas exclusivas. A atual missão dele é encontrar os ingredientes necessários para vencer um concurso de culinária que havia perdido no passado.
Chef Jack: O Cozinheiro Aventureiro é um filme sobre uma viagem repleta de aventuras, cujo arco narrativo é um concurso. Ele se inspira em influências tão diversas como Os Caçadores da Arca Perdida e A Nova Onda do Imperador , ao mesmo tempo que mantém uma perspicácia tipicamente brasileira. Tivemos a oportunidade de conversar sobre o filme com os produtores executivos, Luiz Fernando de Alencar e Giordano Becheleni, e saber mais sobre as ideias deles a respeito de Chef Jack e da produção de um longa-metragem de animação 2D no Brasil.
Trailer de Chef Jack: O Cozinheiro Aventureiro. Produzido pela Immagini Animation Studios e distribuído pela Sony Pictures Brasil.
Como você descreveria a função de cada um neste projeto e o que considera um dia típico de produção?
Giordano: Estabelecemos etapas [distintas] em nosso canal de produção. Em primeiro lugar, temos a fase de preparação. Nós nos reunimos com nossos diretores: – do filme, de arte e de animação. Em seguida, após estruturar o roteiro, passamos para os storyboards, usando o Storyboard Pro. Depois, seguimos para a fase de produção.
Tínhamos quase 120 pessoas trabalhando diretamente no filme. Foi ótimo, porque, aqui no Brasil, produções de animação não são comuns. Assistimos muito à Dreamworks, à Disney, essas coisas. Apesar de ter sido um desafio, acreditamos no nosso potencial.
E, claro, mais uma vez, o uso desse software facilita o processo, pois otimiza o tempo e o orçamento. O público normalmente conhece a Disney e a Dreamworks, [o que influencia] sua opinião sobre a qualidade do filme. E fizemos o nosso melhor. Foi uma ótima experiência para nós.
Após a produção, entramos na pós-produção, fase em que cuidamos de dublagem, trilha sonora e sonoplastia. Na pré-produção, os personagens negros foram [interpretados] por atores e atrizes negros. Temos consciência da importância de promover a igualdade.
Chef Jack é um filme com distribuição internacional, mas vocês tiveram a oportunidade de empregar talentos brasileiros, mantendo a língua portuguesa. Como foi essa experiência?
Giordano: Bem, nossa produtora fica no Estado de Minas Gerais. Chef Jack foi o primeiro filme de animação da história do nosso Estado. A abertura dessa janela criativa e econômica foi muito importante para inspirar todos os artistas de animação.
E nos esforçamos para fazer o nosso melhor em português. O Brasil tem uma população de mais de 200 milhões de habitantes, então, isso é importantíssimo para nós. Hoje, o filme está entre os dez mais vistos do país, na sexta posição, logo atrás de Avatar: O Caminho da Água e Gato de Botas: O Último Pedido.
Atualmente, estamos em 19 países da América Latina. Tivemos a oportunidade de estar na HBO e na Max. E estamos, há oito semanas, entre os dez primeiros na HBO. E a Sony acaba de assinar um contrato com a China. Então, chegaremos à China, ao Cazaquistão e ao mercado asiático.
Isso é muito importante para nós, pois nos esforçamos muito nesse filme, sem muito dinheiro.
Como foi o processo de produção com o Storyboard Pro e o Harmony?
Giordano: Demos início à produção em 2016, mas, na verdade, nosso diretor, Artur [Costa], desenvolveu a ideia de Chef Jack quando estava na faculdade. Em seguida, quando conheci o Luiz Fernando, ainda em 2016, concluímos que a ideia original era impactante e inédita.
Luiz: Foi uma experiência excepcional. Nós nos organizamos para fazer nosso primeiro filme original. Estabelecemos um fluxo de trabalho e um cronograma assertivos e usamos softwares, como o Toon Boom, em nossa animação e nos storyboards. Outras ferramentas foram usadas para desenvolver o filme com a qualidade que queríamos.
Em primeiro lugar, criamos um roteiro repleto de aventura. Queríamos oferecer ao nosso público uma experiência muito dinâmica. Decidimos usar tomadas e movimentos de câmera no estilo live-action, para dar mais movimento à cena.
Outra frente foi a de pesquisa sobre estilos de personagens, cenários, iluminação e finalização. Passamos alguns meses trabalhando em estreita colaboração com a equipe de arte e animação para encontrar o estilo certo. Uma vez definido, chegamos à etapa de juntar [tudo] com o storyboard e o animatic, até chegarmos a um resultado satisfatório. Assim que o animatic foi aprovado, gravamos as vozes originais com artistas brasileiros.
O próximo passo consistiu em definir todo o layout e a produção de todos os cenários e acessórios. Usamos a maioria das ilustrações 2D no planejamento, mas também as 3D, para dar mais profundidade a algumas cenas.
Ao mesmo tempo, foram feitos todos os desenhos de personagens e os riggings. Conforme a etapa de planejamento avançou, entramos na de animação, em que a equipe de animadores colocou em prática os estilos de animação definidos no início pelo diretor do filme e pelo diretor de animação.
Em seguida, chegou a vez da equipe de produção, que cuidou da coloração final, dos efeitos, da iluminação e das sombras, entre outros aspectos. Por fim, a trilha sonora, a sonoplastia e os efeitos sonoros foram inseridos.
Como foi o estágio de planejamento deste projeto?
Luiz: Temos uma grande equipe, que abraçou o projeto e se dedicou ao máximo para torná-lo um filme para toda a família. Estamos cientes de todos os desafios impostos por uma produção longa e, desde o estágio de planejamento, tentamos fazer o melhor e dentro do nosso orçamento.
Por isso, pesquisamos muito até chegar ao conceito idealizado em termos de estilo dos personagens, cenografia, cenários, iluminação e finalização. Definimos as escolhas em conjunto com produtores, roteiristas, diretores, diretor de arte e diretor de animação e com a pós-produção.
O filme foi uma escolha coletiva e acreditamos ter chegado a um resultado muito legal.
Quais técnicas e programas vocês usaram na produção deste filme?
Luiz: Usamos cut out animation em quase todo o filme e, em algumas cenas muito específicas, usamos animação completa. Usamos softwares da Toon Boom, como o Storyboard Pro, para os boards, e o animatic e o Harmony, para a animação. Na cenografia, usamos o Photoshop, e na pós-produção, usamos o After Effects.
Em Chef Jack, é nítida a grande influência de filmes antigos de aventura – Indiana Jones é um que nos vem à mente. Quais foram as inspirações por trás de Chef Jack?
Luiz: Fomos realmente inspirados por Indiana Jones, por sua personalidade heroica, charmosa e cômica.
Em termos de estilo de animação, nossa inspiração foi o filme A Nova Onda do Imperador. Mas também trouxemos referências do mundo da culinária, como reality shows de culinária e programas de chefs como Gordon Ramsay.
A iluminação e as sombras realmente se destacam nesse filme. Quais são os desafios e as vantagens de incorporar a iluminação dinâmica?
Luiz: O principal desafio é manter um padrão ao longo do filme, considerando a variedade de cenas, texturas, personagens e objetos.
Como as ações dos personagens tendem a ser mais exageradas, as sombras e a iluminação devem estar bem alinhadas e trabalhadas, para que também destaquem as cores e ajudem a facilitar a leitura da cena, principalmente para as crianças.
Mas, no final, é sempre gratificante e mágico ver o resultado.
Quais foram os aspectos mais desafiadores ou interessantes da produção?
Luiz: O mais interessante é ver o filme sendo feito e se tornando parte de nossas vidas. Nós nos apaixonamos pelos personagens e ficávamos sempre animados para ver as próximas cenas finalizadas.
O mais desafiador foi produzir parte do filme durante a pandemia de Covid-19. As reuniões eram por videoconferência. Nossa equipe trabalhou remotamente, o que foi algo novo. Com a organização e o comprometimento de todos, no entanto, conseguimos manter a programação e a qualidade.
Fale sobre a importância das produções em língua portuguesa e, particularmente, das brasileiras, no cenário mundial.
Luiz: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe são países que têm o português como idioma oficial. Chef Jack, contudo, sempre foi pensado como um filme de entretenimento voltado aos espectadores do mundo todo, já que temos legendas e dublagens que permitem esse alcance.
Trouxemos elementos da nossa cultura para a narrativa, a trilha sonora e, claro, para os processos criativos em todas as fases da produção. Fomos muito bem aceitos pelo público dos mais de 25 países onde o filme foi exibido, seja em streaming, VOD ou nos cinemas.
O audiovisual não tem fronteiras. Trabalho, amor e dedicação ao projeto sempre farão a diferença.
Como você descreveria a reação ao filme até agora?
Luiz: No Brasil, estivemos entre os filmes de maior bilheteria em 2023. Recebemos prêmios em diversos Festivais no Brasil e no mundo. E estamos aguardando os resultados da final dos filmes que estarão no Prêmio Ibero-Americano de Cinema.
A distribuição mundial avança a cada dia. Por isso, gostaríamos de agradecer ao público, à mídia especializada e à Toon Boom pelo suporte à parceria. Neste ano de 2024, daremos início à produção de Chef Jack 2 , em uma nova aventura repleta de mistérios e surpresas.
Giordano: Planejamos levar Chef Jack à Europa e a mais países da Ásia. Em Chef Jack, tivemos a oportunidade de apresentar os personagens. Agora, em Chef Jack 2, haverá mais aventuras, mais emoções, mais suspense.
Nosso sonho é chegar ao Oscar, – não para vencer, mas para inspirar outras pessoas ao redor do mundo. Foi um prazer fazer esse filme. É mágico para nós.
A produção de Chef Jack: O Cozinheiro Aventureiro pela Immagini Animation Studios é um exemplo de dedicação, inovação e superação. E, ainda, mesmo enfrentando os desafios da produção, como a pandemia e limitações financeiras, a equipe de mais de 120 profissionais conseguiu criar uma obra com padrões elevados!
A Immagini Animation Studios demonstrou a força e o talento da animação nacional, inspirando novos artistas e provando que o Brasil tem um espaço significativo no cenário mundial. Eles não apenas criaram um filme, mas também abriram portas para o futuro da animação brasileira.