Entrevista original traduzida pela Toon Boom
por Edward Hartley
Juzé é um emocionante curta-metragem sobre um jovem surdo, de uma equipe diversa que inclui Raquel Garcia (diretora e produtora) e Cláudio Martins (animador, roteirista e coordenador de produção artística), ao lado de um talentoso time de artistas — que inclui pessoas surdas. O filme conta a história do garoto com imaginação vívida e tocante. Ele explora o ciclo da vida pela perspectiva do menino e de sua improvável amiga, de um universo bastante diferente: uma simpática baleia jubarte. A história aborda temas familiares de fantasia e amizade para proporcionar um vasto oceano de emoções, trazidas à vida em um belo estilo pictórico.
Visualmente, o filme faz referência a meios como aquarela e giz de cera, renderizados para a tela em uma animação 2D altamente texturizada. Feito inteiramente no Toon Boom Harmony, o filme tem uma atmosfera sonhadora, com uma paleta que evoca a nostalgia da praia e do mar. A equipe usou muitos recursos do Harmony para alcançar esse estilo, desde sombras e efeitos de luz até a construção de rigs dos personagens de Juzé.
Conversamos com Raquel e Cláudio sobre o trabalho no filme e seus respectivos papéis na produção, e discutimos a recepção calorosa que Juzé recebeu até o momento. Eles compartilham alguns dos desafios únicos da produção e como se uniram como equipe para criar esse filme de animação sensível, elegante e verdadeiramente especial. Confira o trailer de Juzé e leia nossa entrevista completa abaixo…
Em suas próprias palavras, faça um pequeno resumo de seu próximo filme, Juzé.
Raquel: Juzé é um filme de magia e fantasia, em que dois seres de universos diferentes se conhecem e se conectam de forma inusitada ao longo de suas vidas.
Com um visual que remete a aquarela e giz de cera, ele expressa a sensibilidade do tema abordado pelo filme. Um filme sobre amizade e ciclo da vida.
Cláudio: Sim, é uma história muito tocante. É sobre o ciclo da vida. Sobre amor incondicional. Como dois seres podem se unir independentemente de tudo e sem julgamento.
O que os espectadores verão de mais especial em Juzé?
Raquel: A história de uma amizade impossível, um menino surdo ouve pela primeira vez o canto da baleia jubarte solitária. Como seu canto está em uma frequência específica, Juzé descobre que pode ouvir exatamente essa frequência, dando origem a uma amizade para a vida inteira entre dois seres completamente diferentes, mas com o mesmo dilema: solidão.
Como diretora estreante, quais foram alguns dos desafios únicos em liderar a animação em Juzé?
Raquel: Quando eu estava criando a história, o maior desafio era encontrar o elo entre a baleia e o menino. Por que eles tinham essa conexão? Foi então que me lembrei do meu sogro, que usava um aparelho auditivo e o desligava sempre que queria. — Isso me lembrava o ato de sintonizar um rádio. Isso me lembrou o detalhe da baleia jubarte cantando a 52 MHz. Nenhuma outra espécie consegue ouvi-la. O menino consegue ouvir a música a 52 mhz, isso me pareceu uma solução espetacular.
A nível técnico, escolher a linha artística para criar esse curta foi desafiante, pois sou apaixonada por textura. Mas fazer uma animação em 2D, especialmente com texturas, faz com que o processo seja mais longo. Dependendo da textura e do movimento no qual ela será encaixada, ocorrem falhas, e temos que repensar cenas para que seja possível continuar com a textura da pintura em aquarela que escolhi para o curta.
Como você descreveria a paleta de cores que dá ao filme sua atmosfera e como decidiu qual paleta seria?
Raquel: Uma aquarela vívida em tons pasteis, que transmite a ideia do filme, tornando a atmosfera mais agradável e transmitindo a leveza do curta. Também levei em conta a paleta do início do dia, da tarde e do anoitecer.
Desde o início, a ideia era usar aquarela e textura. Queria transmitir, por meio das paletas, a transição do dia para a noite, seguindo o ciclo da vida.
Algo inspirou a abordagem do design do personagem principal?
Raquel: Sim, eu me inspirei no estilo do artista Sid Meireles, que criou os primeiros conceitos e desenhos para o curta. Gostei dos tons e da técnica. Depois, continuamos com o artista Carlitos Pinherio, que, seguindo o estilo de aquarela, adaptou os desenhos finais.
Você poderia apresentar alguns dos principais membros da equipe do projeto…
Raquel: Uma das pessoas que foram essenciais para a construção do projeto foi Cleyton Santos. Ele é professor e é surdo. Cleyton trouxe as nuances e diretrizes de como Juzé poderia se comportar e se comunicar. Cleyton também foi o ator de referência para que pudéssemos animar o personagem principal.
Outra pessoa essencial foi Cláudio Martins, animador, roteirista e um dos criadores da história. Cláudio, além de roteirista, foi o coordenador de produção artística, criando os elos entre a equipe e o fluxo de trabalho de produção, supervisionando todos os parâmetros.
Cláudio: Havia também Alana Oliveira, intérprete de língua de sinais, que nos guiou no filme.
Qual foi a resposta da comunidade surda na pré-exibição do filme?
Cláudio: Por termos um personagem surdo, fizemos a animação que o retrata de forma representativa. Fizemos uma pré-exibição com um público surdo aqui e a reação foi muito emocionante.
Raquel: Recebemos feedback positivo da comunidade surda, recebemos vários relatos de gratidão e depoimentos de que o curta foi sensível e que transmitiu uma ideia leve sobre a amizade de dois seres muito diferentes. Ouvimos que eles se sentiram representados na narrativa do filme. Apesar de o filme não ser sobre surdez, conseguimos retratar a história com leveza e sem capacitismo.
Como o Toon Boom Harmony ajudou você e a equipe a alcançar o estilo de pintura de Juzé?
Cláudio: O Toon Boom Harmony foi a ferramenta escolhida por se tratar de um curta animado que envolveria diversas técnicas e estilos. Pensávamos que o mar seria um desafio, e foi, mas foi um desafio totalmente possível usando a ferramenta.
Todos os personagens tinham sombras e texturas, o que tornou os rigs mais complexos, mas tudo foi fluido dentro do processo, sem erros ou perdas. O software foi estável e atendeu a todas as demandas esperadas.
Incluindo boa parte da pós-produção! Especialmente as cenas submarinas, que tinham luz, refrações, distorções e efeitos. Praticamente não fizemos pós-produção em outros softwares.
Alguma palavra final ou agradecimento para terminar?
Raquel: Poder escrever uma história e poder dar vida a ela para o mundo é uma sensação maravilhosa. Muitas vezes, esquecemos essa magia na rotina de produção, que leva tempo, peça por peça, até a edição final e os efeitos. Mas, sem o apoio e o patrocínio da Secretaria de Cultura do Ceará e do Governo do Estado do Ceará, isso seria impossível. Para fazer um curta-metragem, precisamos de apoio e incentivo, e foi isso que recebemos deles.
Gostaria de agradecer a cada um dos integrantes que participaram do curta, desde a criação, edição, criação dos personagens. Gostaria de agradecer especialmente ao Cláudio Martins, que foi essencial para a realização desse curta.
- Juzé está em cartaz em festivais de animação e estreará on-line em janeiro. Saiba mais sobre o filme no Site do Animare.
- Deseja criar um curta de animação independente? Os artistas podem começar baixando uma versão de avaliação de 21 dias do Harmony Premium.